Era uma vez um belo campo de terra, plano, pedia por pouco, mas o que pedia era mais poderoso que qualquer outra necessidade: abundância de amor, de energia, de vibração.
O belo campo era plano e a sua paisagem mudava com as estações: por vezes era terra castanha escura, húmida, com um pouco de lama, outras era de um requintado verde, por vezes flores brotavam nos sítios menos comuns, umas amarelas, outras vermelhas... Ao fundo embrenhava-se um enorme mato de árvores miúdas, sombras e arbustos, o sol fazia-se reinar por entre as folhas. Pássaros, patos, esquilos, animais de vários tipos, insetos, muita vegetação e poucos humanos habitavam aquele campo...
Em fins-de-semana especiais, os homens de alma livre, os Grandes de Coração, realizavam o único desejo daquele plano campo de terra. Erguiam tendas fechadas no inverno e abertas no verão, inspirados pelos Deuses instalavam as decorações mais eletrizantes que o campo já vira. Abraçavam a sua terra com o calor de grandes colunas, mesas, cabos... tudo para celebrar o grande amor que existia nos seus corações. Organizavam ali perto tudo para que máquinas pudessem estacionar trazendo os desejados artistas: os que dançam, os que se unem por algo maior.
Chegado o Sábado aquele campo fazia-se sentir, carregado de energia, pronto para receber os seus convidados.
E em rubro, ao longo de 24h o campo vibrava em amor, deslumbrava-se de paz, expandia-se com o coração dos seus artistas a perfeita sinfonia.
Em fins-de-semana especiais, o campo celebrava o seu único desejo...
No entanto, as 24h terminavam, os artistas abandonavam o espaço e alguns já nem conseguiam dançar: o chão, aquele campo feliz, estava triste e coberto de lixo... E ele já não queria continuar, já não queria abraçar e vibrar com os seus artistas: o campo não percebia porque é que deixavam de o tratar com aquele amor...
O plástico sufocava-o. Sem energia, sem alegria, sem ar, o campo esmorecia e chorava, porque sabia que aqueles artistas já não estavam a respeitar a sua arte, já não dançavam apenas por amor, já não se ligavam em comunhão com a Natureza: porque quem vive em pleno, não mata onde habita...
Tal como aquele campo de terra triste, existem muitos outros...
Devemos ser responsáveis pelas nossas ações, devemos recusar-nos a ser agentes de morte e agir como Potencializadores da Vida, não vamos viver num festim de lixo.
Créditos: Maria Rebelo