ENTREVISTA EXCLUSIVA TREE OF LIGHT "O ELEVAR DA EXPERIÊNCIA PSICADÉLICA"
1- Como surgiu o projecto Tree Of Light?
R: O projecto surge numa altura em que estava a organizar o Ponto Sonoro - ciclo de música rock, no CCOB em Barcelos, com o José Roberto Gomes e o Luis Masquete, membros da banda Killimanjaro. Foi a 24 de março de 2012, na 2ª noite das três noites deste ciclo, em que iriam actuar os Maize, os Killimanjaro e os Marbles, três bandas com sonoridades stoner e rock psicadélico, tive a ideia de realizar umas projeções para os concertos. Era do género das projeções psicadélicas com líquidos que bandas como The Grateful Dead e outras na altura dos anos 60 e 70 faziam nos seus concertos.
Tive um feedback muito positivo e foram várias as pessoas que assistiram aos concertos que mais tarde me disseram que o devia fazer mais vezes, gostaram muito dos visuais. Isso motivou-me para porque não, criar um projecto de visuais, video-instalações, instalações de arte, direcionado para eventos, festivais, galerias de arte, onde fosse mais adequado para apresentar o projecto e comunicar ideias que tinha em mente.
Quando terminei a minha licenciatura em 2010, em Artes Plásticas no ramo Multimédia, na FBAUP já estava a produzir e ia fazendo uns projectos com vídeo, animação, stop-motion, instalações, projeções com slides, com vídeo e estava muito interessado em trabalhar e perceber como funciona a luz, como a percepcionamos e a sua relação entre arte e ciência. Entre outros, em 2011, venci o 1º prémio na Mostra de Arte Jovem de Barcelos e em 2012 o Grande Prémio na Bienal de Arte Jovem de Vila Verde com uma vídeo-instalação, então já trazia uma bagagem de experimentação e investigação durante este período. Toda esta experiência e percurso foi fundamental e determinante para amadurecer a decisão de formar este projecto.
O 2º evento em que participei foi na Magical Forest, a 18 de maio de 2012, dois meses mais tarde, evento promovido pela Acid Vision. Com uma vídeo-instalação, intitulada Wheel, que se tratava de um portal para aceder ao hiper-espaço, com essa mesma instalação, participei na galeria de arte do Burning Mountain Festival e num dos hangares do Freqs of Nature Festival, em junho e julho desse ano. No ano seguinte, estava no Athens Video Art Festival, Tree of Life Festival, Tangra Eco Art Dance Festival, Connection Festival e Universo Paralello, respectivamente, Grécia, Turquia, Bulgaria, Espanha e Brasil, apresentando uma vídeo-instalação, vjing, vídeo-mapping para os ambos palcos, um workshop e uma instalação. Tudo surgiu portanto bastante rápido.
Desde o início do projecto, pontualmente colaboro com outras pessoas, amigos, artistas que também deixam a sua marca e isso permite realizar certos projectos com outra dimensão e conjuntura. Aprecio bastante o trabalho de equipa e se for bem realizado os resultados são melhores.
Na sua génese este projecto foi criado com essa intenção, de funcionar como um laboratório, um estúdio de criação artística, sempre aberto e receptivo ao desenvolvimento de projectos colaborativos, seja com indivíduos ou colectividades.
2- Para quem não conhece, o que é o vídeo-mapping, tão utilizado hoje em dia nos eventos de Psytrance?
R: Existe outro termo designado de projection-mapping que acho define melhor o que é o mapping, porque não é estritamente necessário usar vídeo ou um vídeo-projector para conseguir projeções mapeadas, um retro-projector, um projector de slides, uma lâmpada ou simplesmente um dispositivo que projecte luz pode servir para o efeito.
Basicamente de um ponto de vista técnico, mapear é posicionar conteúdo (vídeo, animação, imagem, texto, cor…) sob forma de projeção de luz numa superfície/objecto específica.
O vídeo-mapping não é somente técnico, é uma ferramenta de linguagem com um potencial tremendo de comunicação para múltiplas aplicações, é uma forma de arte que se manifesta através da percepção visual, da construção e composição de ilusões ópticas.
Outra valência do vídeo-mapping é a sua vertente física, porque é luz que se projecta sobre um objecto físico, real, que o transforma na forma como o percepcionamos, seja em termos de forma, cor, textura, movimento,.. podemos dar a ilusão de que esse objecto tem vida própria, alterando as suas características. Não se encontra dentro de um computador, num ecrã digital, é real, é físico, logo é mais credível.
Quando os irmãos Lumière começaram a projectar cinema todos ficaram fascinados. Hoje é uma tecnologia com mais de um século de história, no entanto, a magia do cinema persiste, não se perdeu. O cinema e o vídeo-mapping partilham esta qualidade intrínseca, ambos são projeções de luz que produzem ilusões ópticas, ambos partilham desta habilidade e potencial para comunicar através do seu conteúdo, da imagem.
Sabendo desta possibilidade de produzir ilusões em formas e objectos como se tivessem vida própria, como não poderia ser uma excelente opção para utilizar em palcos, decors, esculturas, pinturas ou instalações em eventos Psytrance!? Com mapping podes tornar um palco em algo extremamente psicadélico. Como se estivesses dentro de um desenho animado. Não se trata somente de criar efeitos visuais cativantes ao olhar, a coisa torna-se mesmo interessante é quando entras dentro do conteúdo e desenvolves uma narrativa, uma história.
Então faz todo o sentido que cada vez mais marque presença neste género de eventos.
3- Quais são os softwares mais frequentemente utilizados?
R: Isso varia de acordo com as necessidades do projecto em específico. Não é estritamente necessário um software, um computador ou um sistema digital para fazer mapping ou produzir conteúdos. Mas assumindo um setup digital, diria que seria necessário um software para mapeamento, e tens várias opções, tais como: MadMapper, Resolume, VPT, e há mais, cada um com os seus benefícios. Depois é preciso conteúdo, como imagens, vídeos, animações, então qualquer software em que possas criar e editar gráficos, produzir vídeo e animação, é uma opção válida, realmente o que importa é o resultado que procuras obter. O computador não pensa por si mesmo, tu tens que lhe dizer o que ele precisa de fazer.
4- Há quanto tempo fazem projecções?
R: Desde o início do projecto, em 2012. Embora como já referi anteriormente projecções é algo que estou em contacto desde o início da universidade, meados de 2003. Este projecto não se trata somente de projecções e mapping, embora é o que mais nos pedem para executar. Participei no Boom Festival 2016, na área Sacred Fire com um workshop de animação em película super-8, no Boivão The Ritual 2017 concebemos um palco com materiais como a licra e o bambu. Entre outros, instalações, dj sets, fotografia, palcos e workshops são outras áreas de intervenção. É um projecto multifacetado, multidisciplinar.
5- Quando surgiu o teu interesse pelo mapping? Ainda te lembras dos primeiros passos?
R: Recordo que participei num workshop de vídeo-mapping, dirigido pelo Joanie Lemercier, do colectivo Anti-Vj, inserido no programa Guimarães 2012: Capital Europeia da Cultura. Creio ter sido nessa altura que entendi que vídeo-mapping era uma ferramenta com bastante potencial e interesse para projectos futuros a realizar.
6- Como foi o teu processo de aprendizagem?
R: Para quem está a começar do zero, vídeo-mapping leva o seu tempo, há uma curva de aprendizagem. Envolve vários conhecimentos, desde produção e edição de conteúdos, equipamento, etc… Quando me interessei pelo mapping já possuia alguma desta bagagem, tinha adquirido vários conhecimentos na área multimédia. Assim como a cultura visual que adquiri no percurso académico foi preponderante. Mas não é só de teoria, com a prática e experimentação aprende-se bastante. Para aqueles que estão a começar o que recomendo é que comecem por projectos simples, não compliquem, nem esperem que vão fazer a vossa obra-prima logo no primeiro projecto, leva o seu tempo a amadurecer, cada coisa a seu tempo.
7- Como é o processo de montagem do mapping? É um trabalho colectivo ou adaptam se a uma determinada proposta? Quanto tempo é preciso para ter o resultado que vemos nas pistas?
R: Há várias fases no processo de montagem, a clássica abordagem é a fase de pré-produção, produção e pós-produção. Começas por esboçar e definir o conceito, o que pretendes executar em função da proposta. Assim que o defines, crias o projecto, produzes o conteúdo e se for o caso, preparas o equipamento necessário ou coordenas com a equipa de produção que trata dessa parte, como da luz, estruturas, etc, é fundamental existir esta comunicação e plano de trabalho com as restantes equipas envolvidas no projecto para que tudo seja preparado devidamente para a apresentação.
Há um conjunto de variáveis a ter em consideração, por vezes podes preparar e produzir tudo ou quase tudo com antecedência mas nem sempre as condições o permitem, por isso, algumas das decisões ter que ser tomadas no terreno e ajustadas com a restante equipa para obter o melhor resultado possível.
O mapping de alguma forma sempre se adapta a algo, seja ao palco, à música ou ao ambiente. Se estamos a executar mapping para um palco que outro projecto/equipa estão a desenvolver, partilhamos ideias, desenhos, vídeo e outros documentos com antecedência para que ambos possamos tomar as melhores decisões e avançar com os projectos. Mais uma vez nem sempre as condições o permitem, e só no terreno é que será definido com exactidão o que será mapeado. Isto requere flexibilidade e capacidade de organização e método de trabalho, se assim não o for, podemos estar a comprometer a apresentação.
Leva o tempo que for preciso até que estejam reunidas as condições e se esteja pronto para lá estar. Se não estás preparado isso vai-se reflectir no resultado. Podes ter o melhor computador, os melhores visuais e o melhor projector do mundo mas se não sabes o que estás a fazer, não te serve de muito.
8- Como sentem que o público do Trance está a reagir ao vosso trabalho? De que forma o vosso trabalho contribui para a experiência psicadélica?
R: Sempre nos surpreendem, sinto que é uma reação muito positiva, há um sentimento de enorme gratidão para com o público. Nós amamos o Trance, é mais do que um trabalho, é algo que nos dá imenso prazer experienciar.
Uma experiência psicadélica defini-se como uma manifestação da mente. É um estado alterado da consciência.
Estou a trabalhar em algo desde 2017 que apelidei de Tecnologia da Consciência Cósmica e fiz uma representação gráfica que explica esta ideia. Entendo consciência como tecnologia. É simples. É uma relação de 4 conceitos que permitem aceder a um 5º conceito. Consciência > Percepção > Intuição > Padrões = Máquina Fractal. A consciência habita um corpo físico, uma máquina orgânica que possui sensores de percepção, é assim que mantemos contacto com o que reconhecemos como realidade, são os nossos filtros que nos sintonizam para frequências, uma dada estação de rádio. Então podemos reajustar estas frequências, sintonizar outras rádios, agitar os sensores, é o que provoca um estado alterado de consciência. Quanto melhor treinamos e reconhecemos o funcionamento dos nossos sensores, utilizando-os de forma correcta, desenvolvemos o nosso 6º sentido, a Intuição. Quanto mais desenvolvemos a nossa Intuição, mais facilmente iremos reconhecer e identificar os Padrões. Alguém com uma intuição apurada, diria que tem um bom poder de observação e capacidade de recolha e processamento da informação. Então o que são os Padrões? Padrões são como as peças que compõe o puzzle, são as fórmulas, a geometria sagrada, são redimensionáveis, porque tudo está relacionado e conectado. Quanto melhor reconhecemos e identificamos os padrões, entenderemos como funciona a Máquina Fractal, a linguagem hiperdimensional, a própria construção perceptiva da realidade, e quando isto sucede, resulta numa evolução da consciência. São conceitos que aplicamos e exploramos no método de trabalho.
A experiência psicadélica não se resume somente a música, sons, frequências, vibrações ou dança, tem uma componente visual bem relevante. Temos um fascínio ancestral pela luz, pelo sol, a luz tem impacto nas nossas mentes, na nossa experiência de vida. Então o vídeo-mapping e projeção de luz podem perfeitamente oferecer uma contribuição significativa na totalidade da experiência, sobretudo pelo seu poder e atributos para desenvolver comunicação visual.
9- Vocês sentem que em Portugal o trabalho de vídeo mapping é valorizado pelos promotores de eventos?
R: Estão cada vez mais informados sobre esta realidade e claro que o valorizam porque reconhecem e compreendem todo o trabalho que envolve o processo para uma apresentação de vídeo-mapping. Mas também porque sabem que o vídeo-mapping é uma opção muito interessante para incluir num evento, que o enriquece, assim como o público o adora.
Não só em Portugal mas também lá fora a cultura dominante ainda coloca bastante ênfase na música e deixa para segundo plano a área dos visuais e outras actividades artísticas, claro que estando a falar de eventos e festivais de música, faz sentido que assim o seja. Embora sinto um despertar e interesse crescente em apostar nestas áreas porque ajudam a fazer a diferença.
10- A vossa maior aspiração profissional é...
R: Vencer um Óscar! (risos…) não estamos numa corrida para a maior aspiração. Somos ambiciosos, queremos fazer parte de grandes projectos, embora todos são de igual importância independentemente da sua dimensão. Queremos ser bem sucedidos, colaborar com outras equipas e profissionais. Realizar intercâmbio cultural e partilhar conhecimento. Dar vida a novos projectos e com qualidade, fazer chegar ao público estas ideias. Não entra nas nossas aspirações ser famosos, mediáticos ou enriquecer bastante. Não é isso que nos move e identifica.
11- Para finalizar, deixem uma mensagem ao público.
R: O público é a razão e grande motivação para a existência deste projecto. Sem uma audiência como poderíamos existir se não existe ninguém para comunicar!? Para isso nos dedicamos em colocar muito amor em tudo o que realizamos, em dar o nosso melhor e contribuir para que todos tenham uma experiência psicadélica mais completa.
Por isso estamos lá, projetando luz e amor no intuito de despertar as consciências, mostrando o caminho para que todos possam transcender e experimentar as hiperdimensões.
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